Suécia: Sindicatos buscam ampliar filiações

A maioria dos suecos está filiada a um sindicato e o nível de organização dos trabalhadores é um dos mais elevados do mundo. Mas o ingresso em um sindicato não é mais dado como garantido. A proporção de sindicalizados está caindo, levando as entidades a iniciar campanhas para novas filiações.


Por Harald Gatu


A poucas horas de distância da capital sueca, Estocolmo, fica Bollnäs, uma pequena cidade cercada de belos lagos e amplas florestas. A companhia estadunidense de ferramentas Snap-on Inc. possui ali uma fábrica de serrotes. A unidade tem 137 trabalhadores e, com exceção de um, todos são sindicalizados.

Mas o índice quase absoluto de adesão não significa que o sindicato dos metalúrgicos IF Metall pode relaxar, esperando que os operários se associem espontaneamente. “Não, não é tão simples”, comenta o dirigente sindical Stefan Halvarsson. “Não é mais assim. Antigamente, eles costumavam vir e pedir para entrar. Agora, temos de procurá-los e argumentar em favor do sindicato. Querem saber o que o sindicato pode fazer para eles”.

Stefan, de 38 anos, está há 14 anos nessa fábrica. Antes disso, trabalhou no serviço de saúde do país, e acredita que esse emprego, no qual tinha muito contato com o público, lhe facilitou o engajamento nas atividades sindicais. “Ser um militante sindical significa trabalhar com as pessoas, construindo relações e confiança”, define.

Após alguns anos na fábrica, foi convidado a assumir o trabalho sindical. Ele aceitou e hoje é o dirigente da subsede do IF Metall na unidade da Snap-On. “Devemos sempre explicar as razões para a associação ao sindicato. E, principalmente, o sindicato deve sempre estar visível. O sindicato deve estar presente entre seus membros”.

Sempre que a companhia contrata novos empregados, a subsede faz com eles um encontro de esclarecimento. “Isto nos dá a oportunidade de explicar o que o sindicato defende e porque somos necessários. Em geral, ocorre um diálogo muito frutífero com os novos empregados, a maioria jovens que, com freqüência, sabem pouco sobre os valores sindicais”.

Mas uma boa apresentação não é suficiente, diz Stefan. O sindicato deve estar atuante o tempo todo. Precisa ser visível e acessível aos seus membros, que devem ser corretamente informados e terem oportunidade de participar. Para isso, a subsede da fábrica de Bollnäs criou uma nova abordagem. “Quando juntávamos todo mundo para uma plenária no refeitório, geralmente só duas ou três pessoas falavam. Os demais ficavam quietos”, relata. “Então tentamos outro caminho”.

As reuniões sindicais são agora realizadas em pequenos grupos, em torno de 15 pessoas, para que um maior número de operários possa se manifestar. Para aproximar ainda mais o sindicato de suas bases, são realizados encontros anuais do IF Metall na fábrica. Um entre quatro filiados da subsede participa das reuniões sindicais.

Além dos vários temas levantados nos grupos, a subsede também faz pesquisas entre os operários. O sindicato consegue dessa forma orientações sobre como suas atividades podem ser desenvolvidas e melhoradas.

"Através dos encontros do IF Metall, conseguimos saber o que os trabalhadores esperam do sindicato”, afirma Stefan, observando que “isto nos coloca sob pressão e estabelece as bases de atuação da subsede. Além disso, proporciona bons parâmetros para o nosso trabalho com a direção do sindicato. Podemos mostrar os resultados das pesquisas e apontar o que precisa ser mudado na fábrica”.

Também é importante que os dirigentes sindicais eleitos sejam preparados para atuar com eficiência. Durante o primeiro ano de mandato, o representante participa das reuniões apenas para “ouvir e aprender”. Em seguida, passa por um programa de treinamento que inclui legislação, contratos e técnicas de negociação. Cada um dos sindicalistas recebe sua própria área de responsabilidade.

UM PANORAMA POLÍTICO SOB MUDANÇA

O alto índice de organização na Suécia é explicado em parte pelo fato de que os recursos do seguro-desemprego são geridos pelos sindicatos. Tais fundos tiveram origem nos sindicatos, para proteger os trabalhadores de reduções salariais.

A finalidade era impedir que os trabalhadores concordassem com salários abaixo do estabelecido em contrato. Dessa forma, os desempregados não se veriam mais forçados a aceitar um emprego cujo pagamento fosse inferior ao que receberiam dos fundos. Mais tarde, tais recursos se tornaram uma garantia para a sobrevivência dos que não conseguiam trabalho, dificultando o achatamento dos salários e evitando que os trabalhadores competissem uns com os outros por empregos em condições cada vez piores.

Mas quando o atual governo conservador assumiu o poder na Suécia, em 2006, foram logo adotadas medidas para enfraquecer os fundos. Os pagamentos para os desempregados foram reduzidos. Ao mesmo tempo, o governo também tornou mais cara a adesão aos fundos de desemprego, em uma tentativa de esvaziar os sindicatos.

"Em nosso caso, ninguém abandonou o sindicato porque as contribuições para o fundo de desemprego aumentaram”, conta Stefan. “Deixamos bem claro que foi o governo que elevou as contribuições, não o sindicato”.

Outro motivo para o alto grau de sindicalização na Suécia é o contrato coletivo. “Sem um contrato coletivo forte, estaríamos em posições muito desvantajosas”, disse o sindicalista. Segundo ele, o contrato coletivo proporciona uma poderosa proteção aos trabalhadores, impedindo cortes nos salários, entre outros exemplos. Além disso, aumenta o poder das bases sindicais nas negociações com os empregadores.

Os sindicatos suecos enfrentam agora os esforços dos patrões para descarregar a crise econômica nas costas dos trabalhadores, por meio do enfraquecimento dos contratos coletivos. “Já procuraram fazer isso antes, mas conseguimos barrar as tentativas”, ressalta Stefan.

Tradução: Dilair Aguiar

Fonte: International Metalworkers’ Federation

http://www.imfmetal.org/main/index.cfm?n=103&l=2&c=19197&mwId=19189



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