Honduras: Apesar da repressão, professores lutam contra o golpe


Por Heather Cottin*



É perigoso ser professor em Honduras. Em entrevista a integrantes de uma delegação dos Estados Unidos a Honduras, concedida a 7 de outubro em Tegucigalpa, Berta Oliva, diretora da Cofadeh, Comitê de Familiares de Presos Desaparecidos, denunciou que os golpistas reativaram o esquadrão da morte do Exército, o Batalhão 3-16, grupo paramilitar responsável por torturas, assassinatos e desaparecimentos nos anos 80. Oliva, cujo marido, o professor Tomás Nativí, desapareceu em 1981, afirmou os “assassinatos seletivos” dos golpistas têm como alvo um número significativo de professores, incluídos nas “listas de mortes” do líder do golpe Roberto Micheletti.


O Cofadeh informou que Roger Abraham Vallejo Soriano, um professor de 38 anos, foi morto a tiros durante um protesto em 30 de julho. Mario Fidel Contreras, de 50 anos, que dava aulas na rede de segundo grau e na Universidade Pedagógica Nacional em Tegucigalpa, morreu com dois tiros no rosto, disparados por dois homens em uma motocicleta. Contreras era também subdiretor da escola noturna Instituto Jesús Milla Selva. Segundo Oliva, o regime de Michelleti os assassinou “pelo crime de ser professores no Movimento de Resistência”. Ambos eram filiados ao COPEMH, o sindicato dos professores de Honduras, um dos alicerces da resistência aos golpistas.


A 22 de setembro, oito policiais femininas prenderam Agustina Flores López, de 50 anos, professora de administração escolar. As agentes a espancaram, gritando:“você é uma cadela da resistência! É melhor f... você!” . De acordo com o Cofadeh, o presidente deposto Manuel Zelaya considerou López a “primeira presa política” do golpe.


Um dos líderes da resistência hondurenha, Juan Barahona, informou durante o enterro de Jairo Sánchez, dirigente sindical morto pela polícia a 23 de setembro, que a 19 de outubro foi comunicado o assassinato de outro professor, Eliseo Hernández Juárez, membro da resistência na municipalidade de Macuelizo e candidato a vice-prefeito no Departamento de Santa Bárbara.


Por que os professores estão na Resistência?


Dirian Beatriz Pereira, professora do ensino médio e integrante do COPEMH, declarou à Delegação Trabalhista, Comunitária e Religiosa dos Estados Unidos para Honduras que os professores são a “espinha dorsal do movimento”. Eles enfrentam um sistema educacional que figura entre os mais atrasados da América Latina e Caribe. O analfabetismo atinge mais de meio milhão de hondurenhos, o equivalente ao total da população entre 15 e 40 anos de idade. De acordo com as Nações Unidas, apenas 32 de cada 100 alunos concluem o ensino primário sem repetir alguma série.


Honduras continua a apresentar o mais baixo índice de matrículas no ensino de 2º grau de toda a América Latina, de acordo com o USAID. Só em 1957 o país passou a ter uma rede pública de ensino. Muitas crianças abandonam permanentemente a escola para trabalhar, tal como seus pais, o que contribuiu para que mais de 80% dos hondurenhos se situem nos mais baixos índices de pobreza.


Há sérias desigualdades entre os jovens das áreas rurais e urbanas e entre as famílias de renda baixa e média. Não há instalações escolares em muitas zonas rurais; as crianças têm aulas debaixo de árvores, e falta materiais escolares básicos como livros e papel. Só 43% das crianças matriculadas nas escolas públicas concluem o primário. Alguns professores lecionam para até 80 alunos em uma só classe.


Como todo professor, os educadores hondurenhos querem melhores escolas para seus alunos. É por esse motivo que a principal escola de formação de professores, o Instituto Nacional de Pedagogia Francisco Morazán, em Tegucigalpa, constitui um dos centros da resistência, assim como o sindicato dos professores.


A ditadura de Micheletti cortou as já insignificantes verbas para a educação em Honduras e suspendeu deliberadamente o pagamento dos professores desde o golpe de 28 de junho, ao contrário dos demais funcionários públicos. Em resposta, os professores realizam greves de três dias a cada semana, além de manifestações de rua, com o apoio de seus alunos.


Os golpistas também indicaram que pretendem antecipar em um mês o encerramento do ano letivo, a 30 de outubro, para retirar os professores de seus centros de atividade e separá-los dos alunos, além de militarizar as escolas, pondo soldados em todas as unidades de ensino do país, como parte dos preparativos para a farsa eleitoral de 29 de novembro. O COPEMH condenou o fechamento das escolas, qualificando-o de ilegal.


Em Honduras, os professores estão organizados há 30 anos, e querem seguir o modelo dos países da ALBA – Aliança Bolivariana para as Américas – como a Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba, dedicados a melhorar as vidas das crianças e jovens e a construir excelentes sistemas educacionais. É por essa razão que os professores hondurenhos estão na Resistência.


* A autora participou da Delegação Trabalhista, Comunitária e Religiosa dos Estados Unidos para Honduras, que visitou o país entre 8 e 12 de outubro.

Tradução: Dilair Aguiar



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