Global: Trabalhadores de TI sindicalizam-se para combater demissões

A Associação Nacional de Empresas de Software da Índia (NASSCOM) está se esforçando para convencer o Unites Professionals, o jovem mas florescente sindicato formado pelos trabalhadores da área de tecnologia da informação (TI), de que a indústria não está recorrendo a cortes em massa e nem que o setor se depara com um futuro instável. O sindicato, por sua vez, afirma que as companhias estão adotando “práticas injustas” para lidar com a crise econômica.
O presidente da NASSCOM, Pramod Bhasin, que diz estar trabalhando 24 horas por dia para fazer com que o setor saia de “uma das piores retrações econômicas dos últimos tempos”, sente-se muito incomodado com as acusações do sindicato.
A 1º de maio, o Unites lançou a campanha “Chega de bilhete azul”, de um mês de duração. A entidade quer obter as assinaturas de 100 mil trabalhadores de TI insatisfeitos em uma petição para que o presidente da NASSCOM pressione a indústria a interromper as demissões.
Se Bhasin está perdendo o sono com o crescente poder do sindicato, os líderes das empresas de TI dos Estados Unidos não estão conseguindo dormir melhor. Nos últimos meses, a Aliança IBM, sindicato dos trabalhadores de TI da IBM sediado em Nova York, e a Aliança dos Trabalhadores de Tecnologia de Washington (WashTech), formada pelos funcionários contratados da Microsoft, estão desenvolvendo campanhas semelhantes contra os cortes recentemente anunciados pelas companhias.
Por acreditar que conhecimento e capacitação técnica sempre seriam os melhores instrumentos para negociar salários e benefícios, a ampla maioria dos empregados em TI se mostrava pouco disposta a aderir aos sindicatos. Mas agora, com os cortes iniciados pelas empresas da Índia e Estados Unidos, esses trabalhadores despertaram para as vantagens de ter um sindicato.
“O Unites recebeu uma onda de novos filiados nos últimos seis meses”, afirmou seu secretário-geral, Karthik Shekhar. O sindicato, com cerca de 4 mil membros em setembro do ano passado, diz ter ganho mais 14 mil filiações nesse período.
Os filiados à Aliança IBM totalizam 5,6 mil, com 103 novos membros desde janeiro passado, enquanto o número de visitas à sua página na Internet saltou ao recorde de 260 mil mensais, em comparação à média de 45 mil por mês em 2008. “Sabemos assim que mais empregados estão descobrindo a Aliança”, disse o coordenador nacional Lee Conrad.
Os dirigentes sindicais afirmam que não têm uma postura radical. Conrad e Karthik realçam que estão apenas procurando meios de garantir a subsistência de seus filiados.
A indústria de TI da Índia, que inclui “call centers” e serviços de apoio tecnológico, tem um faturamento anual de US$ 72 bilhões, dos quais $47 bilhões vindos de outros países – como os Estados Unidos, responsáveis por 60% do total.
O crescimento da indústria permitiu que milhares de indianos de classe média elevassem seus padrões de vida a níveis análogos ao do Primeiro Mundo. Mas uma ampla parcela dos trabalhadores do setor ainda é oprimida e explorada, segundo o Unites.
“Diferentemente de outras indústrias, o elemento humano é o único recurso que ajudou as empresas de TI indianas a ganharem bilhões ao longo dos anos”, declarou Karthik. “Mas sempre que essas companhias enfrentam tempos difíceis, ao invés de reduzirem outros custos, ou adotarem outros modelos comerciais, o primeiro passo é a dispensa em massa”.
O sindicalista denunciou que, além disso, “a pretexto da recessão, as companhias de TI da Índia estão recorrendo a práticas injustas, como avaliações de desempenho tendenciosas para efetuar demissões, aumentos nas jornadas de trabalho, cortes de benefícios, ou mesmo obrigando os empregados a se demitir”.
Enquanto os indianos enfrentam as dispensas em massa, os estadunidenses encaram mais um problema: a migração dos postos de trabalho. Conrad destacou que a Aliança IBM não vê os trabalhadores indianos como inimigos, mas é contra a política da IBM de transferir atividades a outros países como a Índia, cortando vagas nos Estados Unidos.
“Suspeito que algumas companhias estão usando a recessão como desculpa e cortando postos de trabalho para incrementar suas margens de lucro”, afirmou o sindicalista. “A IBM, que é muito lucrativa, está cortando empregos nos EUA e os transferindo a países como a Índia, China e Filipinas, assim como para a América do Sul e Europa Oriental”.
Conrad previu que, a certo ponto, a IBM se deslocará da Índia para outras áreas ainda mais baratas. “A meta de companhias como a IBM é procurar regiões com salários e impostos mais baixos, beneficiando seus executivos e acionistas”.
A WashTech defende a mesma postura. “Somos contrários à política das empresas dos EUA de contratar trabalhadores H-1B e demitir os estadunidenses. Consideramos isto um abuso do conceito dos vistos H-1B”, disse o presidente da WashTech, Les French. O H-1B é um visto que permite aos empregadores contratarem, por tempo determinado, trabalhadores estrangeiros para ocupações especializadas. “O uso atualmente dado aos vistos H-1B nada tem a ver com falta de mão-de-0bra especializada nos EUA; é um instrumento para reduzir despesas às custas dos trabalhadores de TI”, denunciou.
Os sindicatos de tecnologia da informação reconhecem que, se comparados a entidades de outros setores tradicionais, ainda têm um longo caminho pela frente para atingir seus objetivos, tanto nos Estados Unidos como na Índia. Mesmo assim, a intensidade da crise econômica contribuiu para que já alcançassem algumas vitórias.
“Nosso movimento conseguiu chamar a atenção da mídia para os cortes de empregos e sua transferência a outros países, que a IBM preferia manter em sigilo”, comentou Conrad. “Estamos agora ganhando a atenção de líderes políticos, outros sindicatos e os cidadãos dos Estados Unidos que antes pensavam que a IBM nada fazia de errado”.
Conrad acrescentou que representantes políticos da Aliança têm condições de convencer o governo de Barak Obama a considerar medidas para impedir as perdas de emprego causadas pela transferência da produção a outros países.
Para o Unites, a recessão também foi útil. “Nosso movimento lutou por três anos para ganhar reconhecimento,” disse Karthik. “Mas desde que previmos, em setembro do ano passado, que o setor de TI indiano sofreria 50 mil cortes nos seis meses seguintes – uma previsão que se confirmou em apenas três meses – a indústria passou a nos levar mais a sério”.
Além de ajudar a impedir mais cortes nas empresas, o sindicato também levou muitos trabalhadores a conseguir melhores acordos. A participação sindical forçou uma multinacional de TI a elevar em US$ 1.000 por ano os salários de toda a sua mão-de-obra indiana. A companhia estava pagando aos seus empregados indianos salários inferiores aos dos funcionários de outros países que ocupavam os mesmos cargos nos mesmos locais.


Tradução: Dilair Aguiar



Fonte: UPI Asia
http://www.upiasia.com/Economics/2009/05/06/it_workers_join_unions_to_fight_job_cuts/9707/





Um comentário:

todero disse...
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