Global: Sindicato alemão representará trabalhadores estadunidenses

Por David Morgan

Dirigentes sindicais dos Estados Unidos e Alemanha anunciaram dia 18 de novembro uma aliança transatlântica, com o objetivo de fazer com que a multinacional alemã Deutsche Telekom AG mantenha negociações coletivas em sua subsidiária estadunidense, a T-Mobile USA.

Sob o inédito acordo, o sindicato alemão Ver.di será o representante oficial dos trabalhadores da T-Mobile USA e do Communications Workers of America (CWA) em conversações diretas com a administração da Deutsche Telekom em Bonn.

O CWA, que até hoje não conseguiu representar os trabalhadores da T-Mobile devido às táticas anti-sindicais adotadas pela empresa, informou que iniciará uma nova campanha de sindicalização e retomará as tentativas para abrir negociações com a subsidiária.

A T-Mobile USA, que ocupa o quarto lugar entre os serviços de telefonia móvel nos Estados Unidos, divulgou um comunicado afirmando que proporciona uma “atmosfera de trabalho amigável” aos seus funcionários, com salários e benefícios “competitivos”, além de alegar que “os trabalhadores rejeitaram com frequência as iniciativas do CWA”.

Dos três maiores serviços de telefonia móvel dos Estados Unidos – Verizon Wireless, AT&T Mobility e Sprint Nextel Corp – apenas a AT&T tem uma presença sindical significativa, com cerca de 40 mil filiados ao CWA.

A nova aliança foi formalizada em um momento no qual os sindicatos estadunidenses esperam que os democratas na Casa Branca e no Congresso ajudem a reverter décadas de declínio do movimento sindical, que se agravou ainda mais durante o governo do republicano George W. Bush.

Os dirigentes sindicais reclamam que os direitos trabalhistas no país se situam entre os mais fracos do mundo industrializado, levando as companhias européias – onde as normas sobre relações de trabalho são mais elevadas – a considerarem os Estados Unidos como mais uma fonte externa de trabalho barato.

"Nós estamos aqui para dizer às companhias multinacionais, neste caso a Deutsche Telekom, que estamos cansados da face de cooperação na Alemanha – seguida pela pancada nos Estados Unidos, o bastão da intolerância”, advertiu o presidente do CWA Larry Cohen, que disse esperar outros acordos transnacionais para que os sindicatos reforcem sua influência na economia global.

"Esperamos que a Deutsche Telekom opere em padrões bem acima do mínimo nos Estados Unidos”, acrescentou Cohen, acusando a T-Mobile USA de tentar intimidar e perseguir os trabalhadores favoráveis à sindicalização.

A T-Mobile diz no comunicado que foi acusada pelo menos 12 vezes de práticas trabalhistas ilegais em dez anos, mas não foi considerada culpada ou punida pelas autoridades estadunidenses. Segundo a companhia, no mesmo período o CWA enfrentou mais de 1.200 acusações de práticas injustas. “Certamente o CWA concorda que a simples apresentação de acusações de prática trabalhista injusta não é prova de conduta ilícita”, assinala a nota.

A aliança cria uma nova organização sindical, denominada TUnion, permitindo que o CWA, com 700 mil filiados, recorra à influência do Vereinte Dienstleistungsgewerkshaft (Ver.di), o maior sindicato do mundo, com 2,5 milhões de membros em diversos ramos industriais.

O Ver.di, que representa 70% dos trabalhadores da Deutsche Telekom e suas subsidiárias européias, recentemente comandou uma greve de 12 semanas contra esse grupo de telecomunicações por problemas de segurança e condições de trabalho.

Por meio do acordo, os representantes do Ver.di no conselho supervisor da Deutsche Telekom pressionarão a diretoria do grupo a aceitar a sindicalização na T-Mobile USA, coordenando as negociações que se seguirem.

"Nosso papel como sindicato é usar nossas relações e contatos em todos os níveis da companhia para (...) sustentar os esforços do CWA aqui nos Estados Unidos”, declarou Ado Wilhelm, um dos cinco integrantes da delegação do Ver.di que viajou aos EUA para firmar a aliança.

A sindicalização dos trabalhadores da T-Mobile USA aumentaria substancialmente a influência do Ver.di. A subsidiária estadunidense responde por cerca de 25% da receita anual da Deutsche Telekom e, segundo Wilhelm, suas operações contribuíram muito para manter a estabilidade do grupo durante a retração econômica.


Tradução: Dilair Aguiar


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