Egito: Operários da maior fábrica do país conquistam aumento salarial e demissão de gerente corrupto

Cerca de 15 mil operários da Misr Spinning and Weaving, a maior fábrica do Egito, encerraram domingo (20) uma greve, após terem suas reivindicações atendidas. Os trabalhadores estavam concentrados desde quarta-feira (16) diante do prédio da administração da fábrica estatal de fiação e tecelagem, situada na cidade de al-Mahalla al-Kubra, no Delta do Nilo, desafiando advertências da junta militar de que as paralisações não seriam mais toleradas.

“Nós terminamos a greve, a fábrica está funcionando. Nossas reivindicações foram atendidas", informou Faisal Naousha, um dos líderes da paralisação, declarando que os operários conquistaram um aumento de 25% nos salários e a demissão de um gerente envolvido em corrupção.

tanque diante da Misr
Tanque controla entrada da fábrica Misr, ocupada por milhares de operários

A paralisação chegou ao fim dois dias após o Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o poder no país com a renúncia do presidente Hosni Mubarak, no dia 11, ter advertido na sexta-feira (18) que as greves estavam prejudicando a segurança nacional e não seriam mais toleradas, elevando o tom de dois comunicados anteriores.

Alguns grupos “organizam protestos que impedem a produção e geram condições econômicas críticas, que podem levar a um agravamento da economia do país”, alertou a nova nota da junta militar. “A continuação da instabilidade e suas consequências acarretarão prejuízos à segurança nacional”.

Os cerca de 24 mil trabalhadores da Misr cruzaram os braços no dia 10, em apoio às manifestações contra Mubarak, que renunciou no dia seguinte após mais de duas semanas de intensos protestos em todo o Egito. Os grevistas, que reivindicam aumentos salariais e o afastamento da direção da empresa, suspenderam a paralisação por algum tempo, mas a reiniciaram na quarta-feira (16).

Além de retomarem a greve, os operários da Misr – a maior fábrica da indústria têxtil egípcia, setor que emprega 48% da força de trabalho do país – iniciaram a coleta de assinaturas para a criação de um novo sindicato, desvinculado da Federação Sindical Egípcia (ETUF), subordinada ao governo. O site ahramonline informou que mais de três mil trabalhadores já haviam assinado a petição até quinta-feira (17).

Mahalla, berço de rebeliões
 
Al-Mahalla, situada a cerca de cem quilômetros ao norte do Cairo, foi palco de uma vitoriosa paralisação em setembro de 2007, quando os trabalhadores cruzaram os braços reivindicando um aumento na participação nos lucros e a destituição dos administradores da empresa. O governo cedeu após seis dias de greve, exonerando o gerente-geral. O líder do sindicato local, contrário ao movimento, foi agredido pelos operários ao tentar convencê-los a abandonar a greve, renunciando logo em seguida.

Em fevereiro de 2008, grupos de esquerda promoveram a maior manifestação de trabalhadores contra Mubarak desde que este assumiu o poder, em 1981. Cerca de dez mil operários da Misr saíram às ruas, com a adesão de milhares de moradores, exigindo aumento no salário mínimo e gritando palavras de ordem contra o presidente e seu filho Gamal, que estava sendo preparado para sucedê-lo.

No mês seguinte, os trabalhadores anunciaram que pretendiam paralisar a fábrica pela terceira vez em menos de dois anos, e grupos oposicionistas convocaram uma greve geral. Para impedir o movimento, forças de segurança assumiram o controle da tecelagem e milhares de policiais ocuparam al-Mahalla a 6 de abril de 2008. A ação repressiva provocou porém a irrupção de manifestações espontâneas por toda a cidade, com milhares de pessoas saindo às ruas para protestar contra o presidente, a corrupção e os aumentos dos preços.

A polícia atacou com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e tiros, matando dois jovens, um de 15 anos de idade e outro de 20. Centenas de manifestantes foram presos e dezenas ficaram gravemente feridos. A data foi recordada pelos jovens que formaram o Movimento 6 de Abril, organizador da primeira manifestação em massa contra o regime de Mubarak a 25 de janeiro.

Tradução: Dilair Aguiar 

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