Itália: Trabalhadores protestam em Roma contra flexibilização


Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Roma no sábado (28/03) para protestar contra a reforma trabalhista e a política econômica do primeiro-ministro Matteo Renzi, do Partido Democrático (PD).

Os manifestantes, vindos de toda a Itália, lotaram a Piazza San Giovanni, no ato organizado pelo principal sindicato industrial do país, a Federação de Empregados Operários Metalúrgicos (FIOM), integrante da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL). A praça foi o ponto de concentração de grandes passeatas que partiram de dois locais do centro romano.

Durante o comício, foram cantadas músicas como “Bella ciao” e “Fischia il vento”, ambas canções da resistência contra o fascismo, frente a uma enorme faixa com a principal palavra de ordem da manifestação, “Trabalho, dignidade, igualdade. Para mudar a Itália”.

Um dos pontos altos ocorreu quando 180 músicos da orquestra da Ópera de Roma, todos demitidos recentemente, interpretaram “Nessun dorma”, da ópera “Turandot” de Giacomo Puccini, emocionando o público.

O presidente da FIOM, Maurizio Landini, que está tentando unir a esquerda italiana em uma “coligação social” contra o governo, acusou Renzi de se distanciar dos valores da esquerda. “Hoje começa uma nova primavera para a Itália. Estamos prontos para a batalha, sabendo que temos mais apoio que o governo”, disse Landini aos militantes, que agitavam bandeiras vermelhas da federação e de agrupações de esquerda.

Segundo o dirigente sindical, a manifestação demonstra que “o governo não tem o consenso do país e das pessoas que vivem de seu trabalho”.

A secretária-geral da CGIL, Susanna Camusso, também condenou a reforma trabalhista. “O artigo 18 e todo o Estatuto [do Trabalho] são normas que defendem a liberdade dos trabalhadores. São salvaguardas específicas, e não ideologia. São as que diferenciam o trabalho escravo do moderno (...). Continuaremos com nossas iniciativas, com paralisações e uma greve geral”, afirmou a dirigente.  

 

O artigo 18 do estatuto, em vigor desde 1970, consagra “a liberdade e a dignidade dos trabalhadores, liberdade e a atividade dos sindicatos nos locais de trabalho e as regulações sobre o emprego”, destacou Camusso, indicando que” é precisamente este” o alvo da reforma de Renzi, conhecida como “Job’s Act” (Lei Trabalhista).

Entre outros pontos, a legislação, aprovada pelo Parlamento em fevereiro, suspende a garantia contra demissões sem justa causa em empresas com mais de 15 empregados. Os cortes não precisam ser justificados e as empresas não mais serão obrigadas a recontratar os trabalhadores, mesmo que a Justiça considere a dispensa ilegal ou injustificada. No máximo, precisam indenizar o demitido.

Ao mesmo tempo, o governo aprovou incentivos fiscais para empregadores que assinem contratos por tempo indefinido, como forma de reduzir o trabalho temporário. Estas medidas, de acordo com o primeiro-ministro, diminuirão o desemprego, que já atinge 42% dos italianos com menos de 25 anos.

Numa entrevista concedida na véspera do ato público, Renzi ironizou o protesto. “Amanhã haverá mais uma manifestação contra o governo. Nada de novo”, afirmou.

Tradução: Dilair Aguiar





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