Irlanda: Sindicatos convocam greve geral por Pacto de Solidariedade

 



Por Jaimeson Champion


O Congresso Sindical Irlandês (ICTU) convocou para o dia 30 de março uma greve geral destinada a obrigar o governo a aceitar o “Pacto de Solidariedade Social” proposto pelos sindicatos. O pacto, elaborado pelo movimento sindical, tem dez pontos, incluindo um imposto de 48% sobre todas as pessoas de maior faixa de renda, a propriedade pública integral de todos os bancos, uma moratória imediata em todas as execuções hipotecárias e amplas medidas de apoio aos trabalhadores desempregados.

A paralisação nacional foi decidida após uma demonstração de força que deixaria orgulhoso James Connolly – herói da classe operária irlandesa martirizado no início de século 20 –, na qual mais de 150.000 manifestantes atenderam o chamado dos sindicatos e tomaram as ruas de Dublim a 21 de fevereiro para expressar as exigências dos trabalhadores.

Os irlandeses evidenciaram sua indignação contra as ações – ou falta de ações -- do governo para combater a recessão econômica. Muitos manifestantes denunciaram a proposta oficial de cortes em salários e pensões, que reduziria a remuneração de mais de 350.000 trabalhadores de setor público.

A secretária-geral do ICTU, Sally-Anne Kinahan, declarou que “nossa prioridade é assegurar a defesa do povo, a defesa dos interesses populares, não dos interesses dos grandes negócios ou dos ricos”. (BBC, 21 de fevereiro)

Em toda a Irlanda, há uma onda de revolta popular cada vez mais forte diante da infinidade de ataques perpetrados contra os trabalhadores e oprimidos. O clamor público contra os patrões, que estão cortando milhares de postos de trabalho, os bancos, que continuam a expulsar famílias de suas casas, e o governo, que insiste em estabelecer reduções draconianas em serviços vitais, está agora alcançando um nível sem precedentes.

“Há um sentimento de absoluta indignação pela forma selvagem com que eles estão atingindo os mais vulneráveis da sociedade”, afirmou Sheila O’Shea, professora da rede pública que participou da manifestação. (Reuters, 21 de fevereiro)



OCUPAÇÃO DA WATERFORD CONTINUA


Centenas de trabalhadores continuam a ocupar a fábrica de vidros e cristais Waterford, em Kilbarry. A ocupação, que entrou em sua quinta semana a 1º de março, foi a resposta a uma tentativa de fechar a histórica fábrica e seu centro de exposições.

A empresa Waterford Crystal, fortemente endividada com várias instituições financeiras transnacionais, estava reduzindo de forma drástica a produção, num esforço para cortar custos. Quando seguranças contratados pela Waterford tentaram fechar as instalações, a 30 de janeiro, os operários forçaram a entrada, assumiram o controle da fábrica e continuam a ocupá-la até agora.

A 27 de fevereiro, foi anunciado que a KPS, firma de investimentos sediada nos Estados Unidos, estava interessada em adquirir a Waterford Crystal. Os operários responderam que a ocupação da fábrica prosseguirá até que seja conquistada a garantia de emprego a todos os trabalhadores da companhia, independente da possível compra por parte da KPS.

No início do século passado, James Connolly escreveu ao movimento nacionalista irlandês: “Se amanhã vocês removerem o exército inglês e içarem a bandeira verde no Castelo de Dublim, a menos que comecem a organizar a República Socialista, seus esforços serão em vão. A Inglaterra ainda governaria vocês. Governaria através de seus capitalistas, de seus donos de terras, de seus financistas, através de um exército inteiro de instituições comerciais e individuais que plantou neste país e regou com as lágrimas de nossas mães e o sangue de nossos mártires”.

No amanhecer do século 21, com milhares de trabalhadores irlandeses sendo sumariamente demitidos e destituídos de suas pensões pelas corporações transnacionais para quem foram forçados a trabalhar, e bilhões de euros em impostos arrecadados dos trabalhadores irlandeses sendo usados para sustentar bancos como o Anglo Irish Bank e Bank of Ireland, Banco de Anglo e Banco irlandeses da Irlanda, as palavras de Connolly retomam sua força.

Mas o crescente movimento de revide, além de representar hoje um desafio direto ao comando dos banqueiros e patrões da Irlanda, pode oferecer um caminho para o futuro socialista antevisto por Connolly. As centenas de milhares de trabalhadores que saem diariamente às ruas, nas cidades e aldeias de todo o país, estão demonstrando que a classe operária irlandesa está pronta para abrir caminho a uma Irlanda verdadeiramente livre. Enquanto a bandeira tricolor do Estado Livre Irlandês agora tremula sobre o Castelo de Dublim, é a “Starry Plough”, o estandarte da classe operária irlandesa, que permanece hasteada com orgulho sobre Waterford Crystal ocupada, simbolizando a Irlanda do futuro.


Tradução: Dilair Aguiar


Fonte: Workers World (http://www.workers.org/2009/world/ireland_0312/)

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