Iraque: Organizações sindicais formam nova confederação

Três das principais organizações de trabalhadores do Iraque – a poderosa Federação dos Sindicatos do Petróleo, a Associação de Eletricitários e a Federação Geral de Sindicatos e Conselhos de Trabalhadores – decidiram formar uma nova confederação, em um importante passo para a unificação do movimento trabalhista do país.

As entidades firmaram o acordo ao final da Conferência Internacional dos Trabalhadores, a primeira do gênero mantida no Iraque. O encontro, realizado nos dias 13 e 14 de março em Erbil, na região curda, contou com a presença de mais de 200 representantes de sindicatos e federações de todo o país, além de delegações de solidariedade dos Estados Unidos, Reino Unido, África do Sul, Japão, Austrália e Irã.

A conferência, que começou a ser preparada há mais de um ano, reuniu delegados da indústria do petróleo e gás, portos, geração e distribuição de energia elétrica, construção, setor público, transportes, comunicações, educação, ferrovias, serviços, saúde, metalurgia, indústria petroquímica, engenharia civil, alimentação, escritores e jornalistas, alfaiates e estudantes. Das 18 províncias iraquianas, 15 estiveram representadas.


CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO SETOR PETROLÍFERO


O presidente da Federação Iraquiana de Sindicatos do Petróleo, Hassan Juma’a Awad, condenou energicamente as tentativas dos Estados Unidos de privatizar a indústria petrolífera do Iraque através de acordos de parceria, que entregariam o setor às corporações estrangeiras por mais de uma geração. Falando em nome dos 25 mil filiados à federação, Awad ressaltou que essa indústria deve permanecer sob controle da companhia estatal de petróleo, em benefício do povo iraquiano.

A conferência aprovou uma firme resolução contra o novo projeto de lei para o petróleo e gás, patrocinado pelos Estados Unidos, qualificando-o de “hostil aos interesses da classe operária e, conseqüentemente, de todos os iraquianos”. “Todas as fontes de energia são propriedade do povo iraquiano, e ninguém tem o direito de privatizar ou monopolizar estes recursos sob nenhum pretexto. Estes recursos devem ser usados para o benefício dos iraquianos e distribuídos igualmente”, afirma o documento, no qual também se reivindica a participação de representantes dos trabalhadores na administração do setor.

Também foi adotada uma proposta reivindicando uma nova legislação trabalhista, ajustada às diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), garantindo aos trabalhadores os direitos de organização, negociação coletiva e greve através de sindicatos de sua própria escolha, livres da interferência do governo.

A Autoridade de Ocupação dos Estados Unidos e o governo iraquiano deixaram intocada a legislação anti-sindical de Saddam Hussein, que proíbe, entre outras coisas, a sindicalização dos funcionários públicos e trabalhadores em estatais, incluindo a indústria do petróleo.

Os delegados defenderam ainda um Estado iraquiano independente, com um governo “não sectário e não étnico”. “Um dos passos fundamentais para proporcionar estabilidade, paz e segurança no Iraque é a formação de um governo que defina as pessoas em base à sua identidade humana, não importando a origem étnica ou orientação religiosa e ideológica”.

Junto a outras resoluções relativas à privatização e a crise econômica global, a conferência criou uma “Frente Internacional contra as Guerras, Bloqueios Econômicos e Violações dos Direitos Sindicais” como organismo coordenador dos trabalhos nos próximos anos.

O presidente do Congresso da Liberdade do Iraque e coordenador do encontro, Samir Adil, comentou ao encerramento que “esta conferência representa um avanço fundamental, tanto para a unificação do movimento dos trabalhadores iraquianos como para o fortalecimento do movimento internacional de solidariedade ao povo iraquiano, no contexto da crise econômica global e as conseqüentes mudanças políticas globais e regionais”.


DELEGADOS DOS EUA RECONHECEM CRIMES


A delegação dos Estados Unidos, de seis integrantes, foi organizada pela Trabalhadores dos EUA contra a Guerra (USLAW), uma rede de 186 de entidades locais, regionais e nacionais que representam em conjunto mais de cinco milhões de sindicalizados.

Um dos momentos mais emocionantes ocorreu quando dois representantes da organização estadunidense Veteranos do Iraque contra a Guerra discursaram perante a conferência, na primeira vez em que ex-combatentes dos EUA reconheceram publicamente os crimes cometidos contra o povo iraquiano e se desculparam por sua participação na ocupação econômica e militar do país.
T.J. Buonomo, ex-oficial da inteligência militar, e Aaron Hughes, ex-sargento do Exército, declararam que não estavam ali para pedir perdão, mas para assumir sua responsabilidade e manifestar solidariedade ao povo iraquiano. Ambos denunciaram a manipulação realizada pelos serviços de inteligência, o suborno de jornalistas iraquianos, a tortura de prisioneiros, a supressão de direitos trabalhistas e as tentativas do governo dos EUA e das corporações multinacionais para controlar o petróleo iraquiano.

A resposta foi imediata, intensa e sincera. Um dirigente sindical iraquiano, conhecido por suas firmes convicções nacionalistas, dirigiu-se aos veteranos de guerra dos EUA para abraçá-los. Outro delegado afirmou que as declarações de ambos “removeram uma enorme barreira entre os povos do Iraque e dos Estados Unidos”.

O organizador nacional da USLAW, Michael Eisenscher, disse por sua vez que “reconhecemos que o povo e o movimento trabalhista do Iraque têm pago um terrível preço para reconquistar sua liberdade, estabelecer o controle democrático sobre seu próprio governo e sobre o destino e futuro da nação iraquiana”.

“Estamos dolorosamente cientes de que tem sido o governo dos Estados Unidos o responsável por tantas mortes, destruição e sofrimento suportados pelo povo iraquiano. Foi o nosso governo que proporcionou ao ditador Saddam Hussein os meios com os quais desencadeou a guerra contra o seu próprio povo, assim como contra outras nações da região. E os trabalhadores de nosso próprio país também pagaram caro, em sangue e dinheiro, pelas transgressões de nosso governo”, destacou Eisenscher.

“Esta conferência marca importante passo para a plena restauração da soberania iraquiana, que só poderá ser alcançada quando todas as forças militares e mercenárias estrangeiras partirem do território do Iraque, todas as bases militares estrangeiras sejam fechadas, e a integridade territorial do país seja respeitada por todas as nações do mundo”, concluiu.


Tradução: Dilair Aguiar


Fonte: SB News

(http://socialist-blogs-news.blogspot.com/2009/03/iraqi-unions-announce-new-confederation.html)




Nenhum comentário: