Reino Unido: Trabalhadores da Visteon UK conquistam grande vitória



Após mais de 30 dias de intensos protestos na Inglaterra e Irlanda do Norte, a empresa de componentes automotivos Visteon UK (Reino Unido) finalmente recuou e propôs no dia 30 de abril indenizações mais adequadas aos seus 610 ex-funcionários. Em reuniões de menos de seis minutos realizadas no final de março, os operários receberam a notícia do fechamento sumário das três unidades da companhia em Enfield, Basildon (Inglaterra) e Belfast (Irlanda do Norte), mas decidiram resistir, ocupando as fábricas (ver Operários tomam fábricas da Visteon britânica).
Os trabalhadores da Visteon em Belfast aprovaram no dia 3 de maio, por 147 a 34 votos, a nova proposta da companhia, que inclui um grande aumento nas indenizações, além do pagamento de aviso prévio e férias. Em escrutínios anteriores, os funcionários das unidades de Enfield e Basildon aceitaram o acordo por 178 a 5 votos e 159 a 0, respectivamente.
Apesar da aprovação, os cerca de 200 operários que estão na fábrica em Belfast desde a noite de 31 de março advertiram que só desocupariam o local após a ratificação da proposta pela companhia e o início do pagamento das indenizações.

Os demitidos exigiam o cumprimento da promessa feita há 9 anos, quando a Visteon foi separada da Ford Motor, de que seriam mantidas as mesmas condições contratuais existentes na empresa automobilística estadunidense.
O sindicato Unite, que negociou o acordo, disse que os operários contratados quando as fábricas pertenciam à Ford – cerca de 510 – receberão, além da indenização obrigatória, mais 52 semanas de salário reajustado em 5,2%, o que poderá somar cerca de 50 mil libras para cada um deles. Os trabalhadores com menos tempo de serviço ganharão dez vezes o montante da indenização definida por lei.
Além disso, a Ford se comprometeu a dar “tratamento preferencial” aos ex-empregados da Visteon em futuras contratações em suas unidades no Reino Unido. Após o anúncio do colapso da Visteon UK, a companhia estadunidense tentou tirar o corpo fora, afirmando que as demissões “nada têm a ver conosco”, mas cópias dos contratos de trabalho e do acordo firmado entre a Ford e o Unite no ano 2000 comprovaram que as condições estabelecidas para os trabalhadores seriam “garantidas vitaliciamente”.
“Esta é uma tremenda vitória dos operários, e uma demonstração, para os trabalhadores de todo o mundo, de que, quando se luta pela justiça, se pode vencer. O acordo de agora é um imenso avanço sobre a primeira proposta, pela qual 610 homens e mulheres seriam jogados no seguro-desemprego sem nada além da indenização obrigatória”, comentou o secretário-geral conjunto do Unite, Tony Woodley.
Já o porta-voz do sindicato, Roger Madison, disse que a indenização será “dez vezes mais que o proposto inicialmente”, destacando que “eles só ofereceram isso por causa das ações adotadas, especialmente pelos trabalhadores de Belfast – trancar-se numa fábrica por mais de um mês é um exemplo revigorante, é o ‘antiquado’ sindicalismo”.
“Infelizmente, não conseguimos manter os empregos, mas, em termos de um pacote financeiro, achamos que fizemos o melhor possível”, acrescentou.
“Nós derrotamos a Ford, derrotamos a Visteon”, comemorou Sharon Steele, uma das trabalhadoras da fábrica em Enfield, após votar em favor do acordo. Em Belfast, o operário Gerry Campbell declarou que “nós não tínhamos nada cinco semanas atrás e, se não lutássemos, não teríamos nada; esta é uma grande vitória”.
Algumas questões não foram solucionadas, como a dos fundos de pensão da Visteon para os quais os trabalhadores contribuíam. Donal Murphy, que trabalhou na fábrica de Belfast por mais de 40 anos, afirmou que “eles ofereceram uma indenização generosa, mas, infelizmente, se omitiram quanto aos fundos de pensão – provavelmente teremos de lutar por eles em separado”.
"Para alguns dos mais jovens, com menos tempo de serviço, este é um grande negócio, porque ainda não estão preocupados com isso. Mas é diferente para pessoas como eu, em nossa idade e tentando achar outro emprego, pois nossas pensões serão reduzidas em mais da metade”.
As ocupações das fábricas também contaram com a solidariedade dos engenheiros das unidades da Ford em Southampton e Dagenham, assim como a de sindicatos em todo o Reino Unido. Na região sudeste da Inglaterra e na Irlanda do Norte, sindicalistas de diversas categorias participaram de piquetes diante de revendedoras de veículos Ford, cobrando a responsabilidade dessa companhia por seus ex-funcionários.
O sindicalista Keith Flett, de Haringey, ao norte de Londres, ressaltou que a iniciativa dos operários da Visteon “mostra como os trabalhadores podem revidar”. “A grande lição é que, apesar de todas as manifestações de simpatia do governo do Partido Trabalhista para com os trabalhadores que estão perdendo os empregos, as ocupações dos locais de trabalho e as demonstrações de solidariedade conquistam muito mais”.


Visteon Portuguesa também faz greve parcial



Em Portugal, os trabalhadores da Visteon em Palmela, situada na região metropolitana de Lisboa, realizam desde o dia 29 de abril paralisações parciais reivindicando aumentos salariais e protestando contra o aumento do preço das refeições, informou o Sindicato das Indústrias Elétricas do Sul e Ilhas.
De acordo com o sindicato, a Visteon recusou as propostas apresentadas pelos trabalhadores, exigindo um aumento salarial de 45 euros mensais e “a manutenção dos direitos econômicos, profissionais e sociais consagrados no contrato coletivo de trabalho”.
A fábrica da Visteon Portuguesa, produtora de rádios e outros componentes eletrônicos para a indústria automobilística, emprega cerca de 1.350 trabalhadores e contabilizou em 2008 um lucro líquido de 14 milhões de euros. O aumento reivindicado representaria assim cerca de 0,5% do resultado financeiro do ano passado.


Tradução: Dilair Aguiar

Fontes: Blog da Libcom.org sobre as ocupações
Jornal de Notícias



Nenhum comentário: