Reino Unido: O que significou a luta para os operários da Visteon UK

Por Sadie Robinson


Muitos dos trabalhadores que brigaram contra a Ford e a Visteon ( ver Trabalhadores da Visteon UK conquistam grande vitória) jamais se envolveram numa ação desse tipo. E foi uma experiência transformadora.
Chris Martindill trabalhava há 20 anos na empresa. “Meu avô era delegado sindical na Ford de Dagenham e, quando eu era criança, o vi muitas vezes nos piquetes. Nunca pensei que faria o mesmo. Mas chega o momento em que você tem de tomar uma atitude”.
“Isto me mudou. Antes, eu via os manifestantes contra o G-20, por exemplo, como um punhado de gente procurando confusão. Mas foram essas pessoas que nos apoiaram”.
Phil Wilson participou da ocupação da fábrica de Enfield. “Esta experiência foi incrível. Cada minuto valeu a pena, e isto mudou meu modo de ver a vida”.
“Definitivamente, estou mais consciente do que acontece no país agora. Quando somos demitidos, parece que fomos a nocaute. Mas hoje estamos mais confiantes por causa do que fizemos. Penso que isto levou as pessoas a perceberem que têm muito mais potencial do que imaginavam antes”.
“Gostaria de dizer aos outros trabalhadores – se levantem, se façam ouvir e lutem. Não se deve esperar vencer sempre, em termos financeiros. Mas você será recompensado de muitas outras formas”.
“Jamais enfrentei uma situação como esta antes – pessoas que foram chutadas para fora, sem nada, forçando uma corporação global a negociar. Tenho muito orgulho de haver participado disso”.
“Me sinto diferente agora”, relatou Levent Adnan. “Foi como se nos levantássemos contra o sistema. Nós não sabíamos realmente o que estávamos fazendo no início, mas o fizemos mesmo assim”.
“Cometemos erros, mas trabalhamos juntos por tanto tempo que parecia que todos nós estávamos unidos com cola. Foi uma experiência inacreditável, jamais a esquecerei”.
Muitos operários da Visteon estavam ávidos em relatar sua experiência a outros trabalhadores ameaçados de perder o emprego, encorajando-os a lutar também.
“Trabalhei aqui por 20 anos e nunca participei de uma greve”, disse Ian Johnson. “Mas é preciso fazê-lo – o que aconteceu conosco poderia acontecer com qualquer um. Vocês precisam se erguer e participar”.
“Não é tão difícil quanto parece. Vocês certamente terão apoio. Não há do que ter medo – nós todos estaremos lá para manifestar nosso apoio”.
Rosy Sutherland concorda. “Nunca estive numa situação dessas antes”, comentou. “Mas agora quero ajudar os outros, porque os outros nos ajudaram”.
“Nosso acordo significa que os patrões terão de pensar duas vezes antes de dispensar sem nada as pessoas. Outros trabalhadores podem lutar como nós fizemos”.
A luta também levou os operários a questionar muitas outras coisas. Como afirmou Raymond Dixon, da fábrica de Enfield: “foi uma grande experiência – mas também mostra o que está errado na sociedade”.
Ron Clark, que trabalhou na Ford durante 21 anos, é um ex-delegado de base na fábrica de Enfield. “Nós queríamos dar um soco na Ford – e demos”, ressaltou. “O acordo que conquistamos não é nada mais do que merecíamos, mas a forma com que obrigamos a companhia a recuar é que importa”.
“Éramos apenas 600. Um pequeno grupo de trabalhadores derrotou uma companhia multinacional. Demonstramos que os trabalhadores, assumindo uma ação direta, fazem uma enorme diferença – e podem vencer”.
“Em todos os cantos do país, os trabalhadores estão perdendo seus empregos. Mas, quem sabe, eles vejam nossa ação e nossa vitória e pensem que eles também podem fazer alguma coisa”.
“Falei com pessoas de toda a Grã-Bretanha e tenho a sensação de que os trabalhadores querem dar um basta. Acho que nossa luta serviu para abrir a tampa de algo”.
“No início, quando fomos demitidos, deixamos a fábrica em estado de choque. Muitos choravam. Daí os telefones começaram a tocar. Soubemos então que, enquanto nós nos lamentávamos, os trabalhadores de Belfast haviam ficado lá dentro”.
“Mas no dia seguinte voltamos – e tomamos a fábrica. E vencemos”.
“Penso agora nos trabalhadores de Woolworths, onde quase 30 mil deles perderam seus empregos”.
“As pessoas pensam com muita freqüência que não podem fazer nada, mas elas podem. É preciso se organizar. Aprendemos enquanto avançamos”.
“Os patrões querem reduzir os salários e tomar nossos empregos, usando a retração do crédito como desculpa. Precisamos ficar todos juntos. Os patrões pensam que a classe operária é fraca. Nós demonstramos que isso não é verdade”.


Tradução: Dilair Aguiar

Fonte: Socialist Worker online


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