Colômbia: Floricultoras lutam por seus direitos e ocupam fazenda

Por W. T. Whitney Jr.

Acompanhada por seus filhos e 25 companheiros trabalhadores, a líder grevista Aidé Silva mostrou à nossa pequena delegação trabalhista estadunidense as instalações industrializadas de uma floricultura perto de Madrid, Colômbia. Cerca de 400 floricultores, organizados pela União Nacional de Trabalhadores das Flores (Untraflores), iniciaram uma greve a 14 de setembro. Apenas 35 grevistas estavam presentes durante nossa visita, a 18 de outubro, porque, como lembrou Aidé, era domingo.

A sindicalista Aidé Silva fala sobre a luta dos floricultores

Os trabalhadores estão ocupando a fazenda Benilda, com numerosas estufas distribuídas em cerca de 40 hectares, de propriedade dos ricos irmãos Mejia, de Cauca. Corporações multinacionais, como a Dole Food Company, são donas da maioria das plantações de flores próximas a Bogotá. A Colômbia exporta 85% de sua produção de flores cortadas aos Estados Unidos, que adquirem desse país entre 65% e 75% do total de suas importações do produto.

Os exportadores de flores da Colômbia, auxiliados por subsídios do governo e isenções tarifárias dos Estados Unidos, ganham cerca de US$ 1 bilhão por ano. Em comparação, o total das exportações colombianas aos EUA foi de US$ 13,1 bilhões em 2008.

Cerca de três quartos dos grevistas da Benilda são mulheres, com uma média de 20 anos de trabalho no local. Ao todo, 200 mil colombianos trabalham direta ou indiretamente na indústria de flores. A vida de muitos deles é extremamente precária, devido à pobreza ou por terem sido desalojados de suas casas pelos paramilitares e o Exército.

Aidé Silva e um pequeno grupo de mulheres formaram o Untraflores em 2001, como alternativa a um sindicato por empresa – “a melhor coisa que já fizemos”, garantiu. Cerca de três mil filiados trabalham na Benilda e em outras seis plantações de flores da região.

Os trabalhadores em greve reclamam que estão há meses sem receber os salários e que a companhia também não está pagando suas obrigações como auxílio-família, pensões e planos de saúde. A empresa também desviou o equivalente a US$ 800 mil de um programa de poupança para os trabalhadores, denunciaram os grevistas.

Uma quantidade impressionante de tubulações de plástico e equipamentos de pulverização descartados é vista junto a longas fileiras de restos de rosas e crisântemos, em uma clara mostra, como afirmou Aidé Silva, da contaminação do lençol freático do planalto de Bogotá e da exposição dos trabalhadores a substâncias tóxicas existentes em herbicidas, fungicidas e fertilizantes.

A delegação dos Estados Unidos ouviu também Aura Rodriguez, da Corporación Cactus, que presta assistência jurídica aos floricultores. Ela denunciou numerosos casos de exploração sexual e assédio por parte dos chefes, a recusa de emprego a mulheres grávidas e a esterilização forçada de nove trabalhadoras em 2007.

Aidé Silva observou que a mídia colombiana retrata as trabalhadoras como “mulheres fáceis”, acrescentando que o receio feminino de perder o meio de sustento dos filhos prejudica sua organização. O salário de um floricultor sindicalizado se situa em torno de US$ 200 por mês.

A greve foi iniciada quando os irmãos Mejia decidiram fechar a Benilda, demitindo parte dos trabalhadores e transferindo os demais para outros lugares. Aidé Silva avaliou essa iniciativa como um truque para facilitar uma reorganização do setor junto a outros negócios. Os empresários procuram burlar os direitos trabalhistas através da terceirização, explorando os trabalhadores temporários.

A redução de custos serviu como pretexto para as reorganizações. A indústria de flores sofreu uma retração devido à crise econômica, as flutuações cambiais, a inflação, o aumento dos preços dos combustíveis e, supostamente, os custos trabalhistas. Mais de 20 mil floricultores perderam os empregos recentemente.

Sob a lei colombiana, os irmãos Mejia devem usar os recursos obtidos com a venda da propriedade para saldar as obrigações trabalhistas relativas às pensões e benefícios de saúde, entre outros. Os grevistas ocuparam a fazenda para preservar suas instalações, de forma a garantir o pagamento dos valores a eles devidos.

Os sindicatos colombianos estão apoiando o movimento, assim como a diocese católica da região. A comunidade local, formada em sua maioria por floricultores e famílias expulsas de outras partes do país, também respondeu aos apelos dos grevistas. Aidé Silva citou emocionada uma doação dos cortadores de cana de Cauca, aos quais o Untraflores ajudou no ano passado, durante uma vitoriosa greve.

A sindicalista considera a indústria de flores do país um caso exemplar, mostrando os potenciais beneficiados e vítimas, se a Colômbia e os Estados Unidos instituirem um regime comercial subordinado às corporações transnacionais.

Pediu ainda aos visitantes que se somassem à campanha internacional contra os abusos na indústria de flores, realizando manifestações, boicotes e programações educativas a 14 de fevereiro, o Valentine’s Day (equivalente ao Dia dos Namorados), que é também o Dia Internacional dos Trabalhadores das Flores.

Ao se despedir, Aidé Silva deu um recado final: a unidade entre trabalhadores norte-americanos e latino-americanos é essencial para pôr fim ao imperialismo.

Tradução: Dilair Aguiar

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