Global: Operários da França e EUA comparam suas lutas

Por Leah Fried

Chicago foi o local de um encontro entre dois grupos de trabalhadores que protagonizaram extraordinárias ações de resistência ao fechamento de fábricas. Operários franceses que ocuparam em abril uma fábrica da companhia estadunidense de autopeças Molex em Villemur, no sudoeste da França, e retiveram dois gerentes, reagindo à desativação da unidade e a perda de 283 empregos, estiveram recentemente nessa cidade para um protesto na reunião anual de acionistas da empresa.

Operários de dois países em ato diante da Molex

Durante sua estada nos EUA, os franceses se encontraram com operários filiados ao sindicato United Electrical (UE) que, em dezembro passado, ocuparam por seis dias a fábrica da Republic Windows and Doors em Chicago, obrigando o Bank of America a pagar as indenizações e benefícios que lhes eram devidos (ver Republic Windows: como foi a ocupação).

Apesar da resistência dos trabalhadores, a Molex fechou a fábrica de Villemur e transferiu suas atividades para a China e Vietnã, como parte de um plano de reestruturação que custou à companhia US$ 120 milhões. Mais de 60 militantes sindicais participaram do protesto no dia 30 de outubro, quando os operários franceses, munidos de procurações, tentaram entrar na reunião de acionistas para indagar se a empresa irá honrar seu próprio código de ética e cumprir as leis dos países onde opera, além de questionar as despesas com a reestruturação. Os recursos não seriam melhor gastos na modernização das fábricas já existentes e na inovação dos produtos?

Os executivos da Molex, apavorados, impediram a entrada dos operários, mesmo com as procurações. Estranhamente, os trabalhadores também enfrentaram dificuldades ao chegar nos Estados Unidos, sendo detidos por funcionários da alfândega e interrogados sobre suas atividades sindicais. Os agentes dispunham até de jornais franceses com notícias sobre os “chefestros” (ver 'Chefestros' se multiplicam na França).

Em pelo menos dez ocasiões desde o início deste ano, os trabalhadores da França “seqüestraram” gerentes e diretores de empresas, impedindo que saíssem dos escritórios por algumas horas ou mesmo dias, em protesto contra fechamentos de fábricas ou demissões em massa. Várias companhias decidiram renegociar após seus executivos serem alvo dos “chefestros” – como tais ações ficaram conhecidas.


Após o protesto na reunião de acionistas, os franceses, cujo sindicato faz parte da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), relataram seu caso aos sindicalistas da United Electric. A Molex comprou a fábrica em 2004 e logo começou a apresentar um grande lucro. Os trabalhadores eram elogiados por sua excelência em produção e serviço. Apesar disso, a companhia comunicou em outubro de 2008 que fecharia a unidade. Os operários decidiram lutar contra essa decisão e defender seu trabalho.

O que aconteceu em seguida é algo conhecido em todas as partes do mundo: A empresa se negou a dar informações, rejeitou um acordo justo e se recusou a cooperar com o Conselho dos Trabalhadores francês, órgão encarregado de negociar demissões.

Em resposta, os trabalhadores assumiram o controle da fábrica e impediram a saída de dois gerentes, até que a companhia retomasse as negociações com melhor atitude. Durante a ocupação, os operários descobriram que as máquinas haviam sido retiradas e levadas a outras instalações. Enquanto condenava a ação dos trabalhadores, a Molex transgredia a legislação francesa de várias formas, sem nenhum constrangimento.
Assim, em julho passado, os tribunais franceses se pronunciaram contra a companhia, que respondeu com um locaute. Os operários estão sem trabalho desde essa época, mas jamais abandonaram a luta por seus empregos e pelos benefícios a que têm direito.

O encontro em Chicago foi uma oportunidade de trocar idéias sobre como impedir dispensas em massa e as ocupações de fábricas (também estiveram presentes trabalhadores da confecção HartMarx, que recentemente ameaçaram tomar a fábrica ao serem comunicados que esta seria fechada).
Nas três horas de conversa, os operários de ambos os países constataram o quanto têm em comum. Ainda que os bancos tenham tido maior peso na crise industrial estadunidense, tanto nos EUA como na França as empresas agiram da mesma forma – e depararam com a mesma coragem e determinação por parte dos trabalhadores.

“Nenhum idioma, raça ou oceano dividirá os trabalhadores. Recebemos vocês como irmãos, pois estamos unidos na mesma luta”, declarou o dirigente da UE Melvin Maclin aos seus colegas franceses.


Tradução: Dilair Aguiar

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